Palhaço Machista
O meu guarda-roupa é antigo, estilo Chippendale, e, como todo móvel antigo, foi reformado. Só que na porta do meio a reforma não foi bem feita: tinha uma ripinha solta, que podia prender alguma roupa ou, pior, ir levantando atééééé sabe Deus onde e estragar a beleza do móvel.
Liguei para o dono do antiquário onde comprei o armário e o cara foi lá em casa tirar a porta para levá-la ao conserto. No dia que ele ficou de entregar a porta, eu cheguei tarde do trabalho, aí ele deixou-a na portaria.
Como o cara tirou a porta com facilidade, achei que seria igualmente fácil colocá-la no lugar. Humpf! Quando eu forçava o encaixe na dobradiça, a porta arranhava o acabamento na parte superior do guarda-roupa. Sem jeito mandou lembranças, sim, e daí? Eu não comprei um armário para montar; comprei um armário montado, certo?
Liguei para loja e pedi para o cara ir lá em casa colocar a porta no lugar. Ele disse que “não era possível, que era fácil” e blábláblá. É fácil para quem faz isso todo dia, durante anos. Depois de muita conversa, convenci o cara de ir lá em casa.
Antes de pisar na sala, o palhaço soltou a graça:
– Ah, dona Ana Paula, a senhora está precisando casar. Precisa de um homem para fazer estas coisas.
Além de me chamar de encalhada, o palhaço me chamou de sem jeito e sentenciou que um homem, pelo simples fato de ser homem, teria conseguido colocar a bendita porta no lugar. Eu mereço.
sábado, 7 de novembro de 2009
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