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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Eu, leitora e empresária circense

Como esta semana estive muito enrolada, apesar de já ter selecionado o relato das leitoras que seria publicado não tive tempo na quarta. Aí está, divirtam-se apesar do atraso.

Um dia triste de outubro. Meu mundo estava desabando. Acabara um namoro de mais de 2 anos e sentia que precisava de um novo amor pra esquecer o velho. Chorei as pitangas para um amigo. Disse que queria conhecer um homem bonito, interessante, solteiro e mais meia dúzia de qualidades que eu achava importantes. Era um desabafo, sincero, mas ainda um desabafo! Quando, tamanha minha surpresa, ele me disse: "Vou te apresentar pro meu cunhado! Veja a página dele no Orkut e se você gostar, eu arranjo tudo".

Sim, o palhaço é bonito e interessante, pelo menos aparentemente ERA!
(E a primeira apresentação no picadeiro começa agora!)

Dez minutos depois, o palhaço já estava no meu MSN ressaltando suas qualidades empreendedoras no ramo profissional e sentimental ("Você é uma mocinha com o coração partido e eu vou reconstruí-lo e pegá-lo para mim").

Ingenuidade minha, mas caí na cantada piegas e na mesma noite me encontrei com o palhaço. Bem apessoado, mas intrigantemente quieto. Sem conversas profundas e frases inteligentes. Depois de algumas cervejas o primeiro beijo. Pelo menos isso ele fez bem. Foi gentil, disse que tinha que me levar para casa, saber onde eu moro.

As apresentações seguintes foram como a primeira: cheias de gentileza, demonstrações de carinho em público (o palhaço teve a coragem de me esperar na porta do cursinho e me beijar na frente de TODOS os meus colegas!). Eu gostava! Estava me sentindo carente. Não queria um namorado, mas alguém com quem me divertir, rir, ocupar o tempo.

Num domingo, final de tarde, quando ele me levava para casa, disse que passaria a próxima semana a trabalho num projeto fora de São Paulo. Achei estranho ele vir me dar satisfação de sua vida, respondi que tudo bem e mudamos de assunto.

Na quinta-feira seguinte, a estagiária que trabalha para a empresa me chama e pergunta "Fulano não é o palhaço que está saindo com você?!". Confusa, confirmei e perguntei por quê.

- Ah, porque ele apareceu no meu MSN.
-Uhmmm.... deixa eu ver isso!

Sentei-me no PC da menina e comecei a teclar com o palhaço como se fosse ela. Precisei de cinco minutos pra ele me convidar para sair, achando que estava convidando a ela. Fiquei puta! Que mulher não ficaria?! Fechei o MSN dela sem responder ao convite do palhaço.

Fui para casa matutando sobre o assunto. Quantas já não passaram por isso na mão dele? Eu não poderia ser mais uma. Não assim, me sentindo péssima com o fim de um namoro longo e encontrando o palhaço mau caráter pela frente.

No dia seguinte, só pedi para a estagiária abrir o MSN e combinar com o palhaço local, hora e passar o meu outro número de celular.

Olhei no espelho. Jeans e camiseta Hering não seria o look ideal para um flagrante. Fiz um bom investimento no hora do almoço: um jeans desses que tem o poder de colocar tudo no seu devido lugar, um belo decote e um lenço no pescoço que me deu o ar de mulher segura de si que eu tanto precisava.

Minha aula custou a passar naquela sexta-feira. Mas o horário combinado finalmente chegou. Precisava saborear minha vingança. Fui a passos bem lentos para o local. Antes, e até pra me acalmar, passei por uma livraria, sentei por alguns minutos naqueles pufes deliciosos e, depois de receber uns cinco torpedos e 10 ligações do palhaço, resolvi enfrentar a situação (leia-se: dar o desfecho que o espetáculo merecia).

Avistei-o de longe. Para minha felicidade, ele estava mal vestido (verde não lhe cai bem). Conforme ia me aproximando, ele olhava pra trás e fingia não me ver. Até que não pode mais disfarçar. Com um belo sorriso no rosto, aproximei-me dele e abracei-o.

- Oi! Nossa! Que coincidência! Perdido por aqui?!
- Tô sim, e você?! Também perdida?
- Não! Eu tô sempre muito bem achada! Bom, deixa eu ir. Beijo.

Afastei-me alguns passos e senti o celular vibrar na bolsa. Um torpedo dele com os dizeres: PARABÉNS PELA PIADA. Me senti gloriosa, mas ele precisava se sentir um lixo. Fui atrás dele na esquina da Paulista com a Augusta.

- Só você pode brincar com as pessoas?
- A gente não tinha nada ! (Por que raios eles sempre dizem isso?!)
- Não tinha porque você não se permitiu ter. Além disso, com tanta mulher no mundo, xavecar justo uma que trabalha comigo?
(Silêncio, cara de cachorro sem dono)
- Mais alguma coisa?
- Não!

Virei as costas e saí andando. Sensação ótima de vitória.

Infelizmente, eu não fui a primeira e muito menos a última. O palhaço em questão está numa apresentação com intenções muito piores. Diz estar namorando uma menina de família abastada. Já declarou que é a mulher de sua vida e conta os dias para ela embarcar pra Europa com as amigas. Assim, ele deve voltar a ser protagonista no picadeiro.


Leitora M.B.

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Eu acho desnecessário ter ido atrás do palhaço, para mim, bastaria ter desmascarado o bruto na cena do encontro. Aliás, nem sei se eu teria disposição pra isso, mas realmente foi ótimo, divertidíssimo. Acho que eu teria simplesmente sumido e deixado pra lá. No máximo, teria escrito um e-mail desaforado. O negócio é que palhaço que é palhaço raramente se sente um lixo ao ser esculhambado por uma dona de circo, ao contrário, ainda pensa "mulher doida, a gente não tinha nada" ou coisa parecida.

Até troquei e-mails com a dona de circo comentando isso, mas ela disse que valeu a pena e fez bem a ela. Então tá certo. Se fez bem à moça, então tá ótimo!

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