Palhaço glamour
Era aniversário da minha mãe e tava eu jantando com a minha família. Toca meu celular. "Oi, gostosa". Sem titubear, respondo "é engano" e desligo. Toca de novo. Acabei atendendo (não me pergunte por que, mas eu sempre atendo).
- Porra, Roberta, não me conhece mais não?
- Não conheci sua voz.
- Então, tô aqui perto da tua casa tomando uma cerveja sozinho e precisando de companhia. Pensei que seria perfeito a gente tomar uma cerveja. Tudo a ver.
- Hoje é aniversário da minha mãe, tô jantando com ela. Não dá.
- Pô, aniversário da mammy, que glamour... diz que mandei um beijo pra ela - ok, não entendi essa, mas tudo bem - Então, quer dizer que tô precisando de companhia e não vai ser você...
- Não, não vai.
- Mas tem umas mulheres ali na outra mesa dando em cima de mim. Tô sendo assediado...
- Então ótimo, pega elas e tá tudo resolvido.
- Porra, Roberta! Se eu tivesse bem na fita assim não tava te ligando, né? - será que ele não percebeu que se esculachou e me esculachou em uma única frase? Bom, eu não ia explicar.
- Você é muito gentil.
- Então, e amanhã?
- Não dá, vou viajar pra São Paulo e tenho muita coisa pra fazer.
- Vai a trabalho?
- Não, a um casamento.
- Caralho, casamento em São Paulo? puro glamour! - porra, que fixação em glamour! A vida dele deve andar uma merda mesmo.
- É, sei lá. Mas então, vá dá atenção às moças que te assediam que elas podem ir embora. A gente se vê por aí - desliguei.
Bom, lá em casa isso é um toco. Acho que para qualquer um isso é um toco. Mas parece que na casa dele não. Minha irmã perguntou quem era, pela minha cara de irritação. Mal comecei a explicar e o celular tocou de novo. Era o bruto. Não atendi. Tocou de novo. E de novo. Tocou cinco vezes. Sim, dileta audiência, cinco vezes! Na quinta, desliguei o celular. Quando liguei de novo em casa chegou a mensagem que eu havia recebido uma ligação daquele número. Seis ligações. Fiquei até com um pouco de remorso, será que ele quebrou a perna e precisa da minha ajuda?
No caminho pra casa ainda tive que aturar a zoação da minha irmã perguntando onde conheço esses tipos. No circo, maninha, no circo.
Nota: Em passado recente, o bruto figurou como artista principal da minha companhia circense, mas não soube lidar com o sucesso e achou que era estrela demais. A carreira foi breve e o contrato foi rescindido sem estardalhaço. Mas parece que o catiço não entendeu ainda que a empresa não recontrata prestadores de serviço dispensados por justa causa, principalmente há tão pouco tempo. Me lembrem de contar o episódio da demissão dele.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
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