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quarta-feira, 23 de maio de 2007

Palhaço Ferroviário

No estado do Rio há uma lei que determina que o trem e o metrô disponibilizem vagões exclusivos para mulheres nos horários do rush da manhã e da tarde. Os seguranças do Metrô Rio e da Supervia, quando vêem que há homens nestes vagões, pedem que eles se retirem. Na Supervia, isso acontece só na Central do Brasil, estação terminal, mas no metrô, há este cuidado em todas as estações.

Pois bem, a mulherada fica indócil quando um palhaço desavisado entra no vagão que é só delas. Têm umas mulheres que avisam ao malandro, que, se for esperto, se pica. Outras aguardam os seguranças bem em frente aos palhaços que além de desavisados, são folgados porque sentam. Aí pegam o lugar dos brutos, assim que eles são obrigados a descer.

Hoje, na volta pra casa, eu entrei no vagão feminino do Santa Cruz... Estranhei porque tinha homem, mas, pelo que tinha entendido da conversa do mulherio, os guardas da Supervia ainda não tinham passado o rodo nos artistas circenses.

Até que os seguranças chegaram. Como sempre, foram avisando "vagão feminino, senhor" que é a senha pro cara sagaz mudar de vagão. Maaaaaaaas, para alegria do público presente, hoje fomos brindadas com um pocket show do Palhacinho Ferroviário. Pegue a pipoca que o espetáculo vai começar!

Cena 1. O artista está sentado. Traz duas sacolas entre as pernas, no chão, e uma no colo. Tem um semblante cansado, finge dormir, mas não quer ser digno de pena. Um olhar atento notaria sua altivez.

Um dos seguranças da Supervia que entrou no vagão o aborda. É o texto de sempre:

- Senhor, vagão feminino.

Luzes no palhaço. Tom de voz alto, firme e arrogante. Começa o diálogo com o segurança, que responde em voz baixa e tom conciliatório.

- Ah, não vou sair daqui, não. Estou com duas bolsas pesadas.
- Este vagão é feminino. Esta é uma lei estadual.
- Só saio daqui se você arrumar outro lugar pra mim.
- O meu trabalho não é arrumar um lugar pra você. Eu estou aqui pra fazer cumprir uma lei.
- Eu não vou sair.

O segurança 2, que observava a conversa, sai do trem e chama reforço pelo rádio. Todas as mulheres do vagão estão com a respiração presa aguardando, ansiosas, o desfecho do caso. Pelo rádio do segurança 1, que segura a porta do vagão aberta para que o trem não parta, ouvem-se vozes masculinas que dá ordem para que o trem não saia. Já passa do horário previsto para a partida e algumas mulheres reclamam do palhaço estar atrasando a saída.

Chegam dois policiais. Um deles aborda o palhaço. Sua voz é firme e alta. Também há arrogância no seu jeito de falar. Não se sabe se é porque a situação pede ou se ele é assim mesmo.

- Cidadão, tá querendo arrumar tumulto? Não sabe que não pode?

Policial 2, para não ficar só fazendo figuração, também dá uma chamada no palhaço.

- É pra hoje, cidadão.

Imediatamente o artista recolhe seu material de cena, levanta-se e sai do vagão. Ele está mudo.

A mulherada, que assistia a tudo calada, explode em gritos e aplausos, como se tivesse ensaiado para aquele momento. O palhaço é vaiado e ainda perde o trem. Cai o pano.

1 comentários:

lariluz disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...

ótima!