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quinta-feira, 21 de junho de 2007

Palhaço SMS

Essa foi enviada por uma amiga minha. Apesar da proximidade, ela descobriu o blog sozinha, leu todos os arquivos e virou fã. Animada, resolveu revirar o baú circense para colaborar. Seja bem-vinda.
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Conheci o bruto na praia, numa cidadezinha da região dos lagos onde tinha ido fazer prova para um concurso. Aproveitei para passar uns dias a mais na cidade já que estava hospedada com minha mãe e meu padrasto na casa dos parentes do meu padrasto. Curtia praia com minha mãe um dia, conversando sobre a vida e nem aí para a paisagem em volta quando apareceu o dito cujo. Lindo, loiro e bronzeado, o que destacava mais os olhos verdes e um corpo sarado, com barriguinha durinha e tudo o mais no seu devido lugar. Ainda que eu prefira os morenos, ele era o meu número! Colocou sua cadeirinha de praia bem ao nosso lado e ficou lá, o tempo todo me olhando. Quando fiquei só, ele logo veio conversar. Já me animei e pensei: "Ôba! O cara tem iniciativa! Gosto disso!"

Conversamos numa boa, coisa e tal e marcamos um encontro à noite. Ficamos e ele tinha um beijo gostosérrimo - o que pra mim é uma promessa que raras vezes não é cumprida! Eu ia ficar só mais dois dias na cidade, onde ele morava e nos encontramos mais duas vezes. Ele se dizendo todo apaixonado e, ainda que eu seja a cética das céticas, tenho que reconhecer que deu algumas mostras de que estaria falando sério: demonstrou interesse, ligando e indo atrás de mim de surpresa na praia. Quando fui embora, foi me buscar em casa às 5h da manhã e ficou comigo na rodoviária por uma hora - "só para passar mais tempo ao meu lado", em suas palavras. Parecia mesmo um fofo! Ele trabalhava numa escala de 15 dias de trabalho seguidos por 15 dias de folga e garantiu que logo que entrasse de folga, iria até minha cidade. Estávamos namorando, ele disse!

Fui-me embora feliz por ter dada uns bons beijos naquela curta viagem que fiz em busca de um emprego garantido. Vida que segue, não levei muito a sério aquela história de namoro. Como disse, sou a cética das céticas. Mas não é que o rapaz continuou com as declarações? Fã de de torpedos por celular, os SMS, passou a me enviar mensagens todos os dias. E várias! Com declarações, recadinhos mais safadinhos, falando sobre seu dia, perguntando sobre o meu, enfim, essas coisas de namorados. Eu entrei na dele, afinal, estava só com uns peguetes eventuais, nada sério e se o cara fosse mesmo até minha cidade - eu morava em Minas na época - o namoro podia mesmo engatar.

Mas às vezes eu ficava meio impaciente porque ele parecia pensar que eu estava à disposição dele, sempre pronta para responder suas mensagens. Mas eu tinha trabalho, amigos, família e nunca fui 'escrava' de celular. Vira e mexe esqueço na bolsa, deixo de carregar, saio sem levar ... e quando eu demorava pra responder ele ficava chateado, fazia draminha e tal. Eu achava bonitinho: ele sentia minha falta, pensava. Mas, para encurtar a história, eis que o bruto realmente apareceu na minha cidade em sua próxima folga. Pegou a estrada de carro na madrugada e 9h da manhã estava batendo à minha porta. Depois dos beijos um do outro que já conhecíamos e adorávamos, da sala pra minha cama levamos pouco mais de uma hora. E o brutinho cumpriu tudo que seu corpinho gostoso e seus beijos prometiam. Sintonia total! Resultado: ele passou duas semanas na minha casa e ainda o Natal na casa da minha mãe com minha família com direito a troca de presentes, ceia e tudo. Depois, fui passar o réveillon com ele, só nós dois, na cidadezinha de praia. O namoro tinha realmente engatado! Ainda que nossas conversas estivessem mais para monólogos meus, o danado era bom de cama como só! Nossas (muitas) transas eram sempre boas e ele tinha lá outras qualidades: inteligente, tinha um bom emprego - (o que o livrava de ser um duro como os tipos que eu andava atraindo naquela época) e tinha uma boa cota de gentileza. Além de bonito e gostoso. Ou seja, o conjunto da obra resultava num bom namorado.

Luzes no picadeiro que o espetáculo vai começar!

Como disse, ele adorava ficar mandando torpedos e achava que euzinha não tinha mais o que fazer na vida a não ser ficar respondendo suas mensagens. Umas duas vezes ele tinha queimado no golpe porque eu não tinha respondido ou tinha demorado pra responder. Confesso que teve duas ou três vezes que não respondi de propósito e depois disse que o celular tava descarregado - porque eu queria ou precisava fazer outra coisa e não ia poder ficar ali, horas, fazendo malabarismos com meus dedos naquelas teclinhas minúsculas do celular. Uma vez, chegou a dizer algo como "tá tudo acabado", só porque não respondi ou demorei a responder uma mensagem. Dessa primeira vez, eu conversei com ele e expliquei: tenho meu trabalho, meus amigos, minha família e não fico o tempo todo grudada no celular esperando pra receber e responder suas mensagens. E isso não é jeito de terminar um namoro ou o que quer que seja. Se você fizer isso de novo, eu vou levar a sério e vai terminar mesmo, hein? Não vai ter conversa.

O bruto, como sempre, fez um muxoxo como quem concorda e o namoro seguiu. Dias depois, estava eu em Minas e ele lá na cidadezinha, em uma de suas folgas. Como um amigo seu de infância (ele era de Porto Alegre) tava passando uns dias lá, ele não foi pra Minas. Ok. A gente tinha se visto há pouco e eu até cheguei a conhecer o tal amigo. Normal. Vá lá curtir seu amiguinho, afinal, também tenho cá minhas amiguinhas. Sem stress, não sou ciumenta mesmo. Aí, numa sexta-feira, ele me conta que na véspera tinha ido a uma boate badaladíssima numa outra cidade perto dali com o tal amigo. Detalhe: eu havia passado 10 dias com ele e nós fomos, no máximo, a um barzinho mixuruca na cidade mesmo onde ele morava. E eu é quem tinha falado pra ele da tal boate, porque a filial era na minha cidade e eu conhecia. Não era a que eu freqüentava mas nunca tinha ido àquela, no litoral. E o bruto se prontificou a me levar lá? Nãnãninãnão. Mas com o amigo ele foi, claro! Eu reclamei disso e falei que da próxima vez que eu fosse lá, ele iria de novo à tal boate comigo! Ele ainda reclamou que era caro (ensaio do número do palhaço pão duro) mas eu insisti que iríamos - até porque, eu sempre paguei minha parte nas contas - mas isso eu não falei, não precisava porque ele sabia.

Eu até acredito que os dois palhacinhos tenham feito lá seus espetáculos e talvez tenham até conseguido platéia, afinal, os dois espécimes gaúchos não eram de se jogar fora. Mas não tava preocupada com isso - sou adepta do "o que os olhos não vêm o coração não sente". E acho que se tivesse aprontado ele não teria a cara-de-pau de me contar onde tinha ido. Mas o que me chateou realmente foi ele ter ido pra balada com o amigo (pra pegar, claro) e não ter ido comigo quando eu estive lá!!!

Sei que na sexta, quando ele me contou a primeira parte do espetáculo, eu já tinha combinado de sair com minhas amigas. Como ele não perguntou o que eu ia fazer naquele dia, não falei nada. Ele não devia estar interessado. E eu estava numa cidadezinha de 50 mil habitantes no interior de Minas onde a gente fica até 1h30 da manhã bebendo cerveja no único bar da cidade e depois vai pra um galpão tentar dançar ao som de um DJ da cidade que só faz tocar funk quase a noite inteira. Ou seja, a diversão são os amigos porque o ambiente e o público - que ele já tinha conhecido - não inspiram nada!!! Muito menos beijo na boca!

Eis que 2h30 da manhã, estou eu lá, tomando umas cervas e torcendo pro DJ desisitir do funk pra eu ao menos dançar um pouquinho quando recebo uma mensagem dele.
Palhaço SMS: - Oi, tá dormindo?
Euzinha: - Não. Tô no XXXXX com minhas amigas.
Palhaço SMS: - Ah! É? Então aproveita e me esquece!

Como assim, cara-pálida?

Euzinha: - Você deve estar brincando ...
Palhaço SMS: (Nada)
Euzinha: - Bem. Se você acha que é assim que se termina um relacionamento ... tá tudo terminado.

Isto foi na sexta-feira, respeitável público. E na segunda-feira o pândego me manda outra mensagem, romantiquinha, como se nada tivesse acontecido. Eu ignoro. E ele insiste. Manda umas dez mensagens ao longo do dia e eu não respondo nenhuma. Afinal, o que ele esperava? Me faz uma palhaçada daquelas e depois vem agir assim, como se estivesse tudo bem e ele não tivesse sido um moleque? Não ia responder nunquinha mesmo.

Quando percebeu isso, ele me ligou perguntando porque não tava respondendo suas mensagens. Aí ele ouviu tudo o que merecia: que eu já tinha avisado que mandar SMS não era jeito de terminar nada, quanto mais um namoro, e que da próxima vez que ele fizesse aquilo, ia terminar tudo mesmo. Afinal, aquilo era coisa de moleque covarde. Ele tinha entrado na minha casa, conhecido minha família e estávamos namorando. Agora, pra terminar ele achava que bastava um "Aproveita e me esquece" por torpedo de celular sem ao menos uma explicação? Afinal, porque ele tinha me mandado aquela mensagem? E se não enviou outra quando eu disse que era brincadeira, é porque falava sério então o mínimo que ele devia fazer era me explicar porque queria que eu o esquecesse. Qual era o motivo?

O palhaço ficou mudo do outro lado do telefone. Quando eu perguntei: "Então, qual é o motivo?" Ele disse "Não tem motivo nehum, não." Eu disse: "Então a gente não tem mais nada pra conversar". E desliguei.

J.E.

1 comentários:

lariluz disse...

Palhacinhos do petróleo... Conheço bem o tipo! rs...

Quem trabalha no meio, identifica a "cidade da região dos Lagos" com estabilidade e regime de embarque... O que, convenhamos, é uma cidade que praticamente só serve pra ganhar dinheiro!