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quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Rodada dupla de palhaçadas

Respeitável público! Já está chegando outro fim de semana e ainda não contei as palhaçadas do último. Na sexta da semana passada podemos dizer que foi uma rodada dupla, ou um dueto de palhaços amigos.

Saí do trabalho e fui dar pinta em certa famosa roda de samba carioca. Tinha marcado com uma amiga, que estava com outras amigas. Tamos lá, mais bebendo que sambando e talz. Havia um amigo de uma amiga da minha amiga que queria fazer amizade. Gorducho de camisa pólo laranja, ele saiu de casa acreditando que ia pegar alguém naquela noite. Manjaram o palhaço, né? Tentou emplacar uma sociabilidade etílico-sexual comigo, com minha amiga, com outra amiga da minha amiga que tava bem bebinha e outras moças que pararam por perto.

A certa altura da noite chega um amigo dele. Hmmm. Bem mais interessante. Não era exatamente o meu tipo, mas como eu não tava fazendo nada mesmo e ele não parava de me olhar resolvi fazer amizade. Era meio sem noção, chegou logo falando que era separado e tinha dois filhos que tavam com ele até fevereiro, que tinha cortado um dobrado pra se livrar das crionças e poder sair. Tá, e eu com isso? Frisou que tinha dois filhos, dois meninos. Tá, e daí? Ok, foda-se. O bruto era alto, bem acabado, sarado. Disse que tinha 42 anos, bom, tava até enxuto. Em geral eu aprecio a energia da juventude e sou mais chegada a tchutchucos, mas como não tava fazendo nada mesmo, eu já tava bêbada e tava começando a chover... resolvi dar uma chance à experiência e peguei o bruto. Demos uns beijos que até que não foram maus. Aí o palhaço me plantou uma dentada na nuca.

– Aí! Doeu, porra. Não me morde que eu não gosto.
– Vou te morder muito mais.
– Ih, num vai não.

Desconversei, fui pegar uma cerveja. Como sou brasileira e não desisto nunca, voltamos aos beijos. O palhaço se animou: começou a querer enfiar a mão dentro da minha blusa.

– Ei, olha o mico! A gente na rua, no meio de um monte de gente!
– E daí? Ninguém tá olhando.
– Ninguém tá olhando, ninguém tem nada a ver com a minha vida, mas é ridículo. Pára.
– Não pensei que você fosse fresca, você não tem jeito de mulher fresca.
– E não sou fresca, apenas gosto de manter a compostura em público.
– Pega no meu pau.
– Que pega no meu pau o que. Não quero...
– Desce a mão aqui – disse o palhaço abusado puxando minha mão em direção ao pau dele.

Claro que nesse momento tomei abuso do bruto e saí. Minha amiga tava atracada com um negão portentoso do outro lado da esquina, sambando com umas meninas que tinha se afastado por causa do palhaço de camisa pólo laranja. Contei pra ela. "Palhaço velho, quer só mostrar serviço. Volta lá e mostra quem manda". Humpf.

Nesse ínterim, o outro palhaço, o tal barrigudo de camisa pólo, viu que minha amiga se atracou com o negão portentoso e eu com o palhaço velho amigo dele e resolveu que tinha que pegar alguém também. Tava pentelhando nossa amiga muito bêbada, que a essa altura tava encostada no poste pra não adernar. Tentou beijar a moça e como ela não quis, tentou puxá-la pelo cabelo!!!! Meu deus-que-não-existe, um ogro quarentão! Não contente ainda mandou "Quer sim, vou te mostrar que você quer". Que meda!

Minha amiga semi-alcoolizada, na tentativa de se livrar do inconveniente, disse que não ia ficar com ele porque tava a fim de outro. Ele perguntou quem. O primeiro tchutchuco que passou ela pegou pelo braço e disse "esse aqui!". O tchutchuco, muito solícito, fez logo amizade com a moça. O quarentão-barrigudo-de-camisa-pólo-laranja deu-se por vencido e foi pegar outra cerveja.

Eu fiquei observando a situação pra ver se ia ser obrigada a quebrar uma garrafa de cerveja na cabeça do palhaço. O outro palhaço velho, nem sei como classificar, mas era o que não estava de camisa pólo, me viu parada e me plantou outra mordida na nunca, do outro lado agora.

– Porra, já não falei que não gosto que me morda? Doeu, eu detesto isso.
– É essa tua tatuagem, a culpa é da tatuagem.
– Você gosta de tatuagem, é? Tenho duas.
– Não, eu detesto tatuagem, acho ridículo, uma babaquice, me dá raiva, por isso que eu mordo.

Parei, olhei bem ele de cima abaixo. Não valia a pena discutir. Catei a mais bêbada encostada no poste e a outra semi-bêbada que já tinha desovado o negão portentoso e vazamos. É grave a crise quando eu sou a mais sóbria do grupo, melhor ir embora.

No dia seguinte acordei com uma marca leve de cada lado da nuca dolorida. Ódio. Ridículo, mas saí de casa com o pescoço maquiado. Coisa que eu detesto é homem que me machuca, me deixa marcada. Não sou gado pra ser marcado, oras!

Alguém deve ter dito pro idiota que mulher gosta de homem com pegada e o imbecil achou que ter pegada é machucar. Meio passado ele pra um comportamento ridículo desse, né? Como eu sempre digo, antes os jovens palhacinhos, que a gente sempre pode desculpar dizendo "ah, ele fez isso porque é novinho, mas é fofo". Palhaço velho e rodado não dá.

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