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sábado, 22 de março de 2003

De volta ao circo
Fãs, leitores, companheiras de circo e palhaços em geral: depois de um longo e tenebroso verão, venho dar as caras novamente. Imagino que muitos de vocês devem estar se perguntando: por onde andará Vanessa Teixeira? Não vou me alongar muito nos detalhes que me afastaram deste esplendoroso circo durante este período, apesar de que, em nenhum momento, deixei de acompanhar a saga de minhas três atuantes companheiras. Ao invés disto, para ir esquentando e recuperar logo a velha forma, vou relatar uma recente palhaçada que me ocorreu durante as férias.

Nossa viagem começou na quinta-feira, véspera de Carnaval. Eu e meu palhaço oficial (o número 1, o melhor de todos, aquele por quem eu coloco o nariz vermelho e armo o picadeiro) partimos para uns dias de sombra e água fresca em Visconde de Mauá. Alguns dias depois estávamos em São Paulo, e maldita foi a hora em que resolvi revelar logo os filmes que tínhamos batido em Mauá. Fomos agraciados com dois passaportes para o Hopi Hari, um parque de diversões nos arredores da cidade. Claro que não podia ser boa coisa e eu nem liguei para aquele "brinde". Na hora, quase não percebi um estranho brilho nos olhos do meu palhacinho. Sim, ele pretendia usufruir dos tais passaportes, afinal, como diz a sabedoria popular, de graça até injeção na testa. Bem, mas ainda restava uma esperança: talvez não houvesse tempo de encaixar a ida ao tal parque no programa da viagem que havíamos traçado. Doce ilusão, os amigos teceram longos elogios ao parque, e o que era apenas um vago desejo transformou-se em uma obsessão: no domingo de manhã, antes de voltarmos para o Rio de Janeiro, iríamos dar uma passadinha do Hopi Hari, afinal ele estava bem ali, pertinho de Campinhas, onde fizemos nossa última estada.

Sou da época do Tivoli Park. Lembro que gostava daquilo quando era criança. Meu pais me levaram ao Play Center há cerca de vinte anos. Tenho lembranças prazeirosas daquela viagem. Portanto, pode até ser divertido, quem sabe não revivo algumas das alegrias da infância - pensei. Estava enganada. Seria retardada se brincasse de boneca até hoje com intuito de recordar "as doces alegrias da infância"... O mesmo se deu no parque. Na minha ignorância em assuntos de parques de diversão em São Paulo, achei que um lugar como aquele estaria vazio às dez horas da manhã de um domingo de Carnaval. Quando chegamos lá, o mundo já se concentrava no estacionamento. Foi o meu primeiro choque. Muitos outros viriam a seguir.

O primeiro brinquedo que avistamos era uma torre de 70 metros, que a pessoa sentava com as pernas e os braços para fora, se prendia com um colete, fazia cara de idiota, dava tchauzinho e subia. Quando chegava lá em cima, descia numa velocidade que fazia todos saírem com o cabelo em pé e o coração na boca. Por esta sensação, meu palhacinho ficou 40 minutos na fila. Apesar da insistência dele, não concordei em acompanhá-lo na aventura. Depois disso, fomos para a fila da Montanha Russa. O atrativo era o seguinte: a quarta maior montanha russa de madeira do mundo!! Não tinha entendido o detalhe da madeira, e resolvi não perguntar. Provavelmente, o fato dela ser feita de madeira, deve dar um ar rústico ao brinquedo. A fila era gigantesca, mas não dava para perceber de cara. Deve haver um setor nestes parques formados por estrategistas especializados em esconder filas quilométricas. Ficamos enfileirados em currais ao som de mantras esotéricos. Sim, há caixas de som espalhadas pela fila com músicas do Homem de Bem enquanto aguardamos para sermos sacudidos a 105 km/h. A técnica deve ter sido copiada de Auschwitz. Finalmente chegou a minha vez. Entendi, finalmente, porque o fato do brinquedo ser feito de madeira era tão exaltado. A sensação de dar de cara com um estrado de madeira só não é real porque não acontece. Depois de quase três minutos de "pura adrenalina" (uhúúú!!!) tenho certeza de que meu fígado e meus pulmões já não estavam no mesmo lugar. O mais incrível é que até então eu ainda estava de bom humor!!! Três horas já haviam se passado, e eu só tinha andado em um brinquedo q me deixou meio enjoada, mas mesmo assim eu ainda conseguia manter a calma.

Meu palhacinho estava que nem pinto no lixo e queria me arrastar para todos os brinquedos. As únicas coisas q me atraíam eram os jogos de azar. Perdi duas fichas e não ganhei nada. Finalmente saí da pescaria com uma bolinha na mão. Mas o palhacinho queria brincar, queria "fortes emoções". Então, eu mesma sugeri o Viking, um barcão, que vai de um lado para o outro. Não tinha fila e eu tinha uma vaga lembrança de ter me divertido naquilo quando era criança. Sentamos perto da proa. Quando o barco subiu, eu vi a morte de perto. Desta vez, meu órgãos não apenas haviam saído do lugar, como eu os estava quase expelindo. O palhaço que operava o brinquedo perguntou se os outros palhaços queriam mais. Eu estava verde e acho q não tinha forças para responder. Também achei q era só brincadeira, e q não fazia parte das normas de segurança do parque ligar novamente o brinquedo. Mas ele ligou. Meus nervos se crisparam, sim eu estava presa a um instrumento de tortura medieval. Chorava e rezava ao mesmo tempo. O barco foi novamente diminuindo a velocidade. Já era o bom humor, já era a calma, já era a namoradinha boazinha que faz de tudo para agradar seu palhacinho querido. A fúria tomou conta do meu ser. Levantei e berrava com o alto-falante (afinal, não sabia em que direção o palhaço do maquinista estava):
- Pare esta merda, seu filho da puta!!! Eu quero vomitar!!!
Todos olhando para mim, e eu mandando deus e o mundo para a puta que pariu. O palhaço do meu namorado não parava de rir. Pra mim a brincadeira tinha acabado:
- Não ando mais em nenhum brinquedo, nunca mais venho a um parque de diversão!!! Ficamos horas em filas para sermos sacudidos até vomitar!!! Isso devia se chamar Vômito's Park!!! Pague para entrar e reze para sair!!! É por isso que deram a entrada para a gente, era uma cilada!!! - não parei de gritar até estar sã e salva dentro do carro a caminho do Rio de Janeiro.

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