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quarta-feira, 1 de abril de 2009

Eu, leitora e empresária circense

O Palhaço Lorde

Tenho uma amiga que está no ramo circense há muitos anos. Já namorou palhaços de todas as estirpes. Recentemente, terminou um namoro de um ano e alguns meses com um palhacinho viciado em pôquer. Um dia, ela estava na balada, linda, leve, radiante, a fim de apenas curtir a vida, de preferência sozinha. Eis que, como quem ressurge das cinzas, aparece em sua frente um palhacinho já conhecido, que ela já pegou na antiguidade.

Mal ele o bruto avistou a moça, iniciou a investida. Como não tava fazendo nada mesmo e já estava com o teor alcoólico no sangue "um pouco" elevado, a dona de circo resolveu beijá-lo. No entanto, deixou claro que seria apenas isso: não iria para a cama com ele de cara. O palhacinho fez o número do moço respeitador, disse que a admirava por isso, e no fim da noite, já queria namorar. Obviamente, ela não aceitou.

Mas como bom senso é luxo para poucos, como um carrapato, o Palhaço Lorde grudou. Na segunda à tarde, ela chegou em casa e encontrou um buquê de rosas vermelhas, maravilhoso, com um cartão elegante. Encantador, é verdade. Ela ligou, agradeceu pelo buquê, mas reiterou que não queria compromisso.

Mesmo assim, o catiço continuou sua perseguição. Eram jantares românticos, encontros frequentes, ligações, mensagens de texto no celular e todos os artefatos que um artista circense utiliza para pagar de galã. Tudo com muita, MUITA insistência. Após algumas semanas, ela resolveu quebrar sua tradição de não transar com ficantes e conferir se ele era tão bom de cama quanto parecia.

O  negócio é que, apesar de ter gostado da performance sexual do palhacinho, ela não queria namorar. Mas o caboclo continuava insistindo exaustivamente. Até que ela cansou e resolveu romper o semi-rolo. No dia seguinte ao "desenlace", o bruto surtou, quebrou o carro, deu um piti fenomenal na frente de toda a família, foi parar no hospital. Em suma, ataquezinho de rapaz mimado que não aceita ouvir um "não".

Então, num outro momento de insanidade, talvez — ou mais provavelmente num ato de assumir o nariz vermelho — ele passou a disparar uma série de insultos contra ela. Do tipo: "você não sabe o que é ter uma vida igual à minha, ser formado na melhor universidade do país, falar fluentemente tal e tal idiomas, ter mil cursos, a cobrança, a pressão", e todo o blábláblá de filhinho de papai que se acha muito importante. Ainda acrescentou que ela só assistia a filmes fúteis e ficava levando a "vidinha" dela, com o "empreguinho" dela, e que era burra... Enfim... de todas as maneiras o artista circense tentava humilhá-la, ressaltando o quanto ele era culto, inteligente, um verdadeiro lorde.

Depois, pediu desculpas. Ainda chegou a escrever que não era "mal" e que não devia ter "disperdiçado" a chance que teve com ela... Para quem adora ler livros em inglês, o português está bem fraquinho, né?!


Leitora M.G.

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