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quarta-feira, 5 de março de 2008

Eu, leitora

Pois é, amigos de circo, teve gente nos comentário duvidando da veracidade dos posts. Para mostrar que eu romanceio mas não invento, pipocou na minha caixa postal o relato de leitora pra completar nossa semana dos broxas. Na verdade, ela é uma colecionadora de palhaços broxas. Eu tinha até separado outros e-mails pra publicar, mas esse aqui acabou furando a fila.

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O palhaço broxa (já que é a semana do broxa)

Conheci o palhaço numa viagem com colegas da faculdade. O pai dele era dono de um sítio muquifento no interior do Espírito Santo e para lá nos deslocamos no início de janeiro. Eu já tinha ouvido comentários sobre a broxidão do rapaz, mas nunca entrei em detalhes porque nunca vi algo que me agradasse no bruto, então não me era pertinente.

Ocorre que certa noite ficamos os dois sozinhos no sítio enquanto o resto do povo saiu pra caçar cogumelo em bosta de vaca. Nada de segundas intenções, ficamos os dois conversando. Até ali eu não tinha muita idéia de quem ele era, nosso contato era mínimo. Rapaz bem apessoado, estudava Direito e morava no mesmo bairro que eu. Só ia ao sítio pra buscar as raízes de sua infância agrária. Colecionava cristais enoooormes de quartzo rosa e branco. Tinha uma coleção de instrumentos de sopros também, mas em péssimo estado. Dirigia uma Toyota bem antiga, daquelas bicolores e ouvia jazz. Às vezes, colocava um chapéu de feltro. Ah... tudo de bom, além de ser bonitinho.

Naquela noite, papo vai, papo vem, rola um clima e umas beijocas. O povo chega da caçada de mãos abanando, a gente continua juntinho. O povo vai dormir, a gente vai dormir junto e... o cara broxa! Mas broxa mesmo: vira pra mim e diz "Ih, não vai rolar não!", levanta da cama e vai dormir na mesa de sinuca! Acha que ele tentou desfazer a má impressão numa outra noite? Nem era com ele! Broxa assumidíssimo!


Numa outra ocasião me deparei com um tipo muito parecido, outro palhaço broxa. O cara passou os primeiros anos da minha juventude pós-adolescente querendo porque querendo ficar comigo de qualquer maneira e eu dando perdido nele. Mas como para tudo há uma primeira vez na vida, a hora dele um belo dia chegou. Deprimida, lá vou eu atrás do babão. Saímos para beber, conversamos muito e ele meio sem jeito de me chamar pro apê, afinal, quando a esmola é demais o santo desconfia. Devidamente convidada a conhecer o cafofo, ele me mostra a decoração, a coleção de livros e abre uma garrafa dos piores vinhos que se encontram no mercado. "Tudo bem", eu penso, "era por isso que eu não dava bola pra ele". Mas o rapaz não era feio, nem burro, nem tinha nenhum defeito terrível. Só não dava liga. Valia arriscar um dia.
A gente faz o aquecimento, tira a roupa, bagunça a cama e na hora H o sujeito broxa. Mas broxa convicto, vira pra mim e diz a mesma coisa: "Ih, não vai rolar não!". Pelo menos esse era mais safo, sabia o que fazer com o resto do corpo quando o pinto não quer funcionar. Isso não significa que não tenha sido um desastre.

Passei anos sem cruzar (nos dois sentidos) com a figura. Mas, como a vida dá voltas, lá me encontro eu na mesma situação de novo e penso que, de repente, quem sabe, ele podia estar curado... Dona de Circo assumida, ligo pra ele, saímos, bebemos, vamos ao seu apê, pulamos o vinho ruim, esquentamos, tiramos a roupa e na hora H: nada! De novo! E eu pensando: mas pra quê ele dava em cima de mim mesmo?

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