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quarta-feira, 21 de maio de 2008

Eu, leitora e empresária circense - rodada dupla!

Como vou viajar no feriadão, resolvi postar duas histórias pra vocês terem diversão até a minha volta. Os dois relatos foram enviados pela leitora I.O., dona de circo emérita!

Divirtam-se.


O Palhaço sem Memória

Era uma linda tarde de verão e eu procurava um amor. Tá bom, tá bom, mentira. Procurava um cara bem gostoso que pudesse me dar um belo trato - afinal tinha acabado de sair de um namoro horrível de seis séculos e meio. Eu lá, universitária, cabelo ao vento, no boteco, gente jovem, reunida. Eis que me chega o palhacinho protagonista dessa história.

Todos em seus lugares, o show vai começar!

Senhorito muito bem apessoado, com um nome que por si só já me fazia tremer (até me casei com um homônimo, uma coisa). Cabelos de anjo, olhos tristes e verde-folha. Sim, leitoras. Verde-folha. E pra piorar tinha uma moto. Conversa vai, conversa vem, eu pensando que na encarnação que vem, quem sabe, um cara bonito deste tipo poderia me dar bola. E ele me lasca o tiro de misericórdia: "Você tem os olhos mais bonitos que eu já vi. Na verdade eu nunca vi olhos brilharem tanto ao pôr do sol". Sim, palhacinho era baranguinho, mas bonito daquele jeito eu achei a coisa mais romântica da face da terra. E emendou: "Você vai no churrasco de História no sábado?". Vou, vou, como não? Vou de avião, caso necessário. De jegue. Fiquei descontrolada.
Não fui ao tal churrasco e o encanto passou. Não o vi mais, o tempo correu e eu estava bem. Saindo com as amigas, mais magra, solteira. Um belo dia, do nada, escuto alguém me gritar da varanda de um restaurante. Quem? Sim, o palhacinho verde-folha.
Achei que era coisa do destino. Ai, ai. Coisa de filme. A gente ia se casar, ter uns dois filhos e eu ia contar essa história, do encontro ao acaso. Saímos de mãos dadas, porta da minha casa, um beijo. Huuummm... Que beijo, tudo perfeito. Nós dávamos risadas de alegria. Juro! Foi inacreditável... Como tudo que aconteceu depois dessa noite.

Toda sexta-feira eu encontrava o verdinho no mesmo local que nos conhecemos. Era uma beijação, uma pegação, uma coisa! Ai, ai. Nuvens, babies. Nuvens. Era um tal de se ver no intervalo da faculdade, dentro da Biblioteca. Ai. E dá-lhe promessas de ligações, encontros que eram desmarcados em cima da hora. Assim foram três semanas, só o via na sexta-feira e um dia ou outro que a gente se esbarrava nos matagais e na Biblioteca da Pontifícia Universidade.

Belo dia palhacinho verde-folha diz: "Nós precisamos sair direito, né?". Sim, sim, lógico, lógico. "Pois é. Hoje tem uma apresentação de teatro no Shopping Onde J. Perdeu as Botas, acho que deve ser bacana. Vamos?". Oh, claro baby. Claro. "Então tá. Nos encontramos lá às 20h, na praça de alimentação".

Continuei tomando minhas cervejitas e olhando o relógio de hora em hora. Afinal, eu precisava sair em um horário bom pra chegar em casa, dormir e acordar divina, fresca. E assim fiz: fui embora umas 5 horas antes do habitual, cheguei em casa, dormi forçada, acordei, tomei um banho, pedi dinheiro emprestado (!!) e peguei um táxi - eu estava mega-ultra-power atrasada.

Cheguei pontualmente às 20h. Esperei, esperei, esperei e nada. Fiquei preocupada, devia ter acontecido alguma coisa. Caiu de moto, só pode ser. Liguei pro circo do palhaço.

- Alô, Palhaço está?
- Ele está tirando um cochilo no sofá. Quer que chame?
- Siiiim, por favor. (AINDA BEM QUE NÃO É POSSÍVEL MATAR UMA PESSOA PELO TELEFONE! ATUALMENTE EU ESTARIA PRESA...)
- Alô.
- Palhaço, eu estou aqui no Shopping Onde J. Perdeu as Botas.
- É mesmo? Hoje tem uma apresentação muito bacana aí! (EU FALEI QUE ERA INACREDITÁVEL!)
Silêncio
- EU ESTOU AQUI TE ESPERANDO, PALHAÇO!
- Nossa, eu combinei com você, meu anjo? Não deu pra ir...
Outro silêncio. Eu estava chorando, patética.
- Ô meu anjo...
- PÁRA DE ME CHAMAR DE MEU ANJO!
- Você está chorando?
- NÃO!
- Sabe o que é? Desculpe, eu esqueci de te contar um pequeno detalhe... Eu tenho namorada.

Desliguei na hora. Pequeno detalhe??? Eu queria minha mãe naquele momento. Nunca tinha tomado um bolo desse, nada parecido. As pessoas me olhavam com pena, eu gritei no telefone. Peguei outro táxi e fui pra casa de uma amiga. Ela ia sair e pelo meu estado acabou dando uma festinha em casa. Fiquei com outro palhacinho, com o mesmo nome (eu avisei que o nome é uma praga pra mim). Sabe o que é o pior dessa história? Uns tempos depois eu caí na conversa dele, de novo! Ele estava solteiro, eu também, resolvi dar mais uma chance... E ele brochou no dia. Palhaço bonitinho, gostosinho, verde-folha, desmemoriado e brocha. O meu único arrependimento é de não ter espalhado essa história na época. Eu deveria ter espalhado cartazes pelo campus. Não deveria?!?


Leitora I.O.

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