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sábado, 15 de fevereiro de 2003

O palhaço insuspeito
Talvez seja o pior tipo de palhaço porque te pega desprevenida. Conhecido de algum conhecido seu há anos, não registra em sua ficha nenhuma palhaçada vultuosa e todos, inclusive seu melhor amigo, se surpreendem com a atitude de moleque do cara.

Topei com um tipo desses.

Acompanhe a cronologia do espetáculo.
Quarta-feira: Eu e o palhaço nos conhecemos. Ficamos. É bom, muito bom, para ambas as partes.
Quinta-feira: O palhaço pede meu telefone a namorada do seu melhor amigo, minha amiga. Liga pro meu celular quando ainda estou no trabalho porque está com saudades e não ia agüentar esperar até a noite. Me liga a noite novamente. Conversamos por horas. Detalhe: ele é de outro estado.
Sexta-feira: Papo animado ao telefone again.
Sábado: À noite, três horas seguidas no telefone.
Domingo: Várias ligações durante o dia porque a ex-namorada maluca (chamemo-la de mulher barbada, que é mais conveniente) descobriu o possível relacionamento e faz chantagem emocional. O palhaço dá uma balançada, começando a colocar a maquiagem.
Segunda-feira: O palhaço, já de rosto pintado, não liga.
Terça-feira: Ligo pro palhaço. O papo segue normal.
Quarta-feira: Sem telefonemas. Eu não sabia, mas o palhaço já estava até vestido.
Quinta-feira: O palhaço liga pro meu celular no horário do meu trabalho. Me chama carinhosamente de “pequena” e pega o número da minha empresa e pergunta se tem problema ligar para lá outro dia. Digo que não. O número “demonstrando interesse” já faz parte do show do artista e eu nem desconfiava.

Pronto. Esse foi nosso último contato. Depois disso, as luzes iluminaram o picadeiro central e o palhaço deu seu show: sumiu por mais de uma semana!

Liguei para o artista na sexta, no sábado e no domingo sem conseguir falar com ele. Na última tentativa a ficha caiu: ele não atendia meus telefonemas deliberadamente.

Deixei um recado na secretária da casa dele dizendo que só queria uma explicação do que estava acontecendo, que não ia procurá-lo mais. Nem assim, o bruto me retornou.

Como havia mais uma personagem no show (a ex-namorada-maluca) e eu tinha informações de fontes seguras que o bruto não era dado a estes espetáculos, fiquei sinceramente preocupada. Segundo esta mesma fonte, não seria de se estranhar se mulher barbada atentasse contra segurança do palhaço.

Fiquei mais calma quando o sumiço completou uma semana. Pensei: se ele estivesse morto em casa, o corpo já estaria fedendo e os vizinhos, incomodados com o futum, já teriam chamado a polícia ou os bombeiros. E se mulher barbada tivesse atentado contra ele, ele deveria estar sendo mantido preso, imobilizado e com os dedos quebrados porque, convenhamos, ele poderia ao menos ter me mandado um email...

Relaxei e comecei logo a pensar em um post para o HTP. Afinal, para alguma coisa o palhaço ia me servir.

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