Palhaço frentista
Abasteci meu carro e fui calibrar os pneus. Estava arrumada para ir ao trabalho, de saia e salto, e por isso, meio sem jeito, quando o frentista se ofereceu para me ajudar. "Poxa, que legal, que gentil", pensei.
Em um dos pneus a calota encobria o bico da câmara de ar. Chegou um outro frentista pra ajudar. Eles podiam ter tirado a calota, até mesmo para resolver o problema pra mim de uma vez (quando fosse calibrar novamente não precisaria da manobra de puxar a calota até o tal bico aparecer), mas não. De tanto puxarem a calota para alcançar o bico, eles conseguiram quebrá-la. "Ai, que merda. Mas tudo bem, pelo menos eles estão me ajudando. Se eu fosse fazer isso, estaria expondo minha calcinha e sujando minhas lindas mãozinhas de unhas lixadas e esmaltadas".
Como eu sou uma pessoa agradecida, dei uma boa gorjeta para eles tomarem um café da manhã.
Segui pro trabalho linda, loura e afro-nipônica no meu carrinho, quando quase chegando ao trabalho ouço buzinadas insistentes e vejo um taxista enlouquecido pendurar-se na janela do seu carro para me avisar que meu pneu estava baixo. “Ah, obrigada”, respondi. "É pegadinha", pensei, já que tinha calibrado os pneus naquele dia.
O cara emparelhou mais uma vez comigo. "Olha, tem um borracheiro mais a frente. Pára lá". "Eu sei. Trabalho por aqui. Mas já estou chegando no estacionamento. Vou parar lá". O motorista fez uma cara de "tudo bem, sua anta, depois não reclama que eu não avisei" e seguiu seu rumo.
No meu delírio "poliânico", pensei: "Nossa, que taxista legal, preocupado, gentil..."
Quando desci do carro já no estacionamento fui conferir o estado do pneu. Não sei como não perdi a roda do carro. Ele estava com-ple-ta-men-te murcho, vazio mesmo. Meu humor começou a mudar. "Ai, minha nossa senhora dos pentelhos compridos!!! O que aqueles imbecis fizeram no meu pneu????"
O rapaz do estacionamento se prontificou a me ajudar e disse que trocaria o pneu.
Quando voltei à tarde pra buscar o carro, o pneu estava trocado, mas outro pneu estava vazio. "Putaquiupariu vovó!!!! Eu vou incendiar aquele maldito posto de gasolina!!!!"
Agora eu não tinha nem estepe pra trocar. O anjo do estacionamento tirou o pneu vazio, colocou-o no seu carro, me levou até o borracheiro mais próximo para consertá-lo(os geniais frentistas conseguiram quebrar o bico da câmara de ar). Voltamos ao estacionamento, ele colocou o pneu no lugar. Como eu sou realmente agradecida a quem me ajuda, dei outra polpuda gorjeta ao rapaz. Voltei no borracheiro, ele consertou o primeiro pneu vazio e trocou o estepe por ele. Nessa brincadeira gastei muitos dinheiros que não pensava gastar e me estressei um bocado. Se não fosse o anjo do estacionamento me ajudar prontamente, estava ferrada.
Sou agradecida, mas também vingativa, encrenqueira, quizumbeira. Voltei no posto fatídico. Como já havia passado alguns dias, estava calma e falei até brincando: "Olha, você me deu um prejuízo..." e contei o que aconteceu ao frentista. O palhaço virou as costas e disse "impossível". Ah, meu irmão, comecei a berrar indo atrás dele. "TÁ DIZENDO QUE EU ESTOU MENTIDO? E IMPOSSÍVEL POR QUÊ? OS PNEUS ESTAVAM DIREITOS. FOI VOCÊ QUEM MEXEU NELES E ESTRAGOU OS BIRROS." Que ódio! Claro que ele, do alto de sua sapiência e arrogância masculina, jamais admitiria que fez alguma besteira. Homem não erra. Já viu algum errar? Eu nunca. Não que ele tenha admitido, pelo menos. E claro que deve ter comentado que eu era histérica ou que precisava de uma piroca porque mulher, na opinião de homens como ele, quando reclama, só pode ser por estes dois motivos.
domingo, 27 de agosto de 2006
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