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quinta-feira, 11 de maio de 2006

Palhaço comentador

Há muito tempo que não dou as caras por aqui, se bobear, faz quase dois anos! Acho que meu nome só figura aí ao lado, como uma das donas do circo, por uma espécie de menção honrosa. Afinal, fui uma das fundadoras deste circo, que desde 2002 não pára de bombar. Mas, como quem é vivo sempre aparece, eis que ressurjo, qual fênix das cinzas, para fazer jus ao título de empresária circense.

Para começar, tenho uma situação que vivenciei há pouco tempo, parecida com a que Nara conta no post Gotas de Palhaço (nos arquivos de abril). Entrei numa banca de jornal, dessas que parecem mais uma loja dentro do supermercado, para comprar um jornal. Dei uma olhada nos livros expostos e vi "A Mulher Desiludida", de Simone de Beauvoir. Não importa o motivo, resolvi comprar. Entreguei os dois volumes ao moço do caixa para pagar e eis que o palhaço solta a seguinte pérola:

- Você está desiludida? – perguntou, junto com um sorrisinho cínico nos lábios e um letreiro luminoso na testa que dizia: corneada-pelo-namorado-mulher-recalcada-compra-livro-de-auto-ajuda!

Como eu estava de bom-humor, resolvi ser benevolente com a ignorância e, principalmente, com a falta de bom senso do vendedor. Afinal de contas, desde quando um comerciante se acha no direito de comentar as compras de um cliente? Ou, pior, tirar conclusões sobre a vida de quem ele nunca viu apenas pelo objeto que a pessoa está comprando?

Respondi que não estava desiludida e apenas resolvi comprar o livro por se tratar de um clássico.

- Ah, sim. É que eu não entendo muito. Mas que é estranho, é! – disse ele.

Bem, vamos lá. O cara vende um livro e acha estranho alguém comprar. Não entende nada do que está vendendo. Me critica por estar comprando o que ele vende! Só pude rir da estupidez do palhaço... E se eu comprasse um livro chamado Ensaio Sobre a Cegueira, do José Saramago, por exemplo, eu seria cega??? E se eu pegasse Memórias de minhas putas tristes, do Gabriel García Márquez, o que ele pensaria de mim??? Sim, você é o que você lê, mas não literalmente, por favor!

A verdade é que, como ele mesmo disse, mesmo sem entender patavinas do assunto livros, o palhaço pressentiu tratar-se de um título feminista e sentiu-se ofendido por existirem mulheres capazes de se desiludirem com os homens. É ou não, é?

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