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quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Eu, Leitora e Empresária Circense

Na segunda semana da nossa sessão de relatos enviados pelas leitoras vamos a um espetáculo internacional. Provando que homem é tudo palhaço, não importanto a idade, profissão, escolaridade ou localização geográfica, vamos a uma palhaçada argentina.

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Aí eu fui fazer o exame médico obrigatório da academia, que o do ano passado venceu. Entro. O médico, um careca, entre 30 e 35 anos.

Começo a preencher uma ficha, ele pergunta meu nome e minha nacionalidade, eu respondo. Ele pergunta minha idade, quanto tempo faz que estou aqui, por que vim. Ok, normal. Respondi sorridente: quatro anos, minha mãe veio trabalhar aqui e vim com ela. Agora trabalho também.

– Soltera, casada, con hijos? – Fo-deu. Quando um argie pergunta isso, batata, ele quer o seu corpo.
– No, soltera.
Ele faz uma cara de surpreendido. Insiste.
– Nada, nem marido, nem namorado?
– Nada.
– E por quê?
Ok, isso não tem a ver com o exame médico. Se tenho namorado ou deixo de ter não vai influir no meu eletrocardiograma nem se estou apta a fazer ginástica. Alguma coisa ali estava errada.
– Pois é, não sei...

Calma. Vai ver ele quer ser simpático. Tá só criando assunto. Tudo bem. Mas aí veio a primeira pérola: "AS BRASILEIRAS NÃO NAMORAM, NÉ"?

Não, Pedro Bó. Só damos a bunda por aí. Pra qualquer um. A qualquer hora, em qualquer lugar. Vivemos em uma eterna orgia, ao ritmo do samba e tomando caipirinha. Fechei a cara e falei "sim, namoramos, mas não sei o que acontece."

Aí ele tinha que fazer eletrocardiograma em mim. Pediu pra eu baixar a parte de cima do vestido e tirar a blusinha de baixo. Ok, normal, exame médico, fazer o quê. O cara tá se engraçando mas ao mesmo tempo tá me examinando, o que se há de fazer.

Tô eu lá deitada, de sutiã, um momento de fragilidade. Ainda mais nessa situação um tanto estranha. Ele me passando um gel, colocando os trocinhos da máquina, as mãos perigosamente perto dos meus peitos. Calma, tá tudo bem. É só não olhar pra cara dele, fazer cara de paisagem, faz de conta que não estou de sutiã e que ele não falou nenhuma merda. Só que aí o cara me solta: "es verdad lo que dicen, que las brasileras son más... más... más..."

Pronto. Ele vai falar "melhores na cama". "Putas". "Gostosas". Certeza. Já sei, quatro anos aqui, sei muito bem a fama das brasileiras. Ele está procurando um eufemismo pra "vagabunda" na cabeça dele. Aposto. Babaca, que puta babaca.

Interrompo: "sí, más simpaticas, no?". Eu tentei. Até o último instante, eu tentei. Mas ele: "NO, MÁS ... EEEHHH... MÁS LIBERALES".

Ainda disse que estava me perguntando isso porque nunca tinha falado com uma brasileira. Meu, se eu estivesse num bar, ok, ele não deixaria de ser um imbecil mas pelo menos eu daria uma resposta atravessada e sairia andando. Não, era um exame médico, ele era um médico, ele nunca tinha me visto na vida e em dois segundos estava me perguntando se las brasileras eran más... más... más... eeeehh... más liberales. Ainda por cima ficou procurando a palavra, sabem? Idiota.

Fechei mais ainda a cara e disse, meio curta e grossa: "no, no es verdad. É a mesma coisa que dizer que todo argentino é metido, que é a fama que vocês têm no Brasil. E isso não é verdade".

Nem entendi direito a resposta do cara, ele resmungou algo tipo "é, realmente", e calou a boca. Acho que se tocou. Meio tarde demais, não acham?

Terminou, pus minha roupa, falei gracias e fui embora. Nem olhei pra cara do infeliz.
Liguei pra uma amiga, também brasileira, pra contar o sucedido. Ela, mais barraqueira que eu, disse que eu tinha que voltar lá e denunciar que tinha sido assediada sexualmente. Achei que não era pra tanto, mas gostei da idéia de voltar lá. Isso não podia ficar assim, o cara foi muito imbecil. Volto. Chego pro cara da recepção: "olha, eu não quero confusão, não quero brigar, nem discutir, nem fazer escândalo. Só peço, por favor, que vocês falem pra esse médico que tá atendendo agora que, da próxima vez que ele atender uma brasileira, que não faça perguntinhas idiotas."

Mereço?


Palhaçada enviada por Djones

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