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sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Palhaço de samba

Outro dia fui com uma amiga pra uma roda de samba popular na cidade. Pretendia rebater o calor com uma cervejota gelada e um sambinha de qualidade. Juro que a idéia nem era catar uns caboclos pra prestação de serviços mútuos de diversão adulta, embora o jardim estivesse florido, digamos assim.

A noite foi pródiga em palhaços. O primeiro foi uma figurinha repetida.

Tamos sambando, dando pinta, tomando nossa cervejota e minha amiga conclui que precisa comer um breguete ou vai ficar bêbada. Saímos da muvuca pra ir sondar as barraquinhas. Como ela que tava com fome falei pra ir na frente. Parece até sacanagem, mas a bruta foi direto na direção de um palhaço que conheci em outra roda de samba e já protagonizou espetáculo no meu picadeiro. Não deu nem tempo de dizer "por aí não!". Ela passou bem na frente dele e eu fui junto. No caminho claro que nossos olhares se cruzaram, mas eu virei a cara.

Não contente, minha amiga parou um pouco atrás dele pra decidir o que comer e nisso meu celular tocou, era um amigo perdido. Desenrolei meu amigo e avisei a ela "vamos sair daqui que já fiquei com aquele carinha ali". Ela garantiu que ele e os amigos tavam me olhando e dizendo "É ela sim!". Vazamos pro outro lado da praça.

Tá lá minha amiga atracada com um espetinho de frango e meu celular avisa o recebimento de uma mensagem de texto. "É tu que tá aqui no ****?". Resolvi me fazer de desentendida e respondi "Estou no ****, mas quem pergunta?". Seguiu-se uma frenética troca de torpedos.

- A gente se conheceu no ***** há pouco tempo, lembra?
– Oie!
- Lembra de mim?
– Sim!!! Vc marcou comigo outro dia e não apareceu. :p
– Pô, tentei falar com vc!!! Depois te explico. Vem pra cá!!


Ah, então tá. Some e depois vem com um "vem pra cá", pra mostrar pros amigos que ele chama e a mulherada vem correndo? Não é assim que a banda toca não. E tentou falar comigo? Tentou pouco, babe. Nós nos conhecemos num sábado, marcamos de nos encontrar no mesmo lugar na quinta seguinte. Jacaré foi? Nem ele.

– Me engana que eu gosto! Vem vc aqui.
– Hehehe!!! Blz. Mas você lembra meu nome?

Porra, que pergunta idiota é essa? Que diferença faz o nome?

– Não, mas você também não lembra o meu.
Eu lembrava, mas fiz graça.

– Roberta!!!
Ah, até que desmoriado de todo ele não era.

– Tá certo. 1 a 0. Me fala teu nome então.
Não respondeu mais.

Achei que tava só marcando território, essa prática comum em machos mamíferos quadrúpedes. Né que daqui a pouco o bruto aparece do meu lado? "Tava de procurando". Até que mostrou serviço, né?

– Bom saber que você freqüênta os mesmos lugares que eu – avisou o bruto. Putz, não posso mais nem dar pinta nas rodas de samba da cidade que vou encontrar a criança?

Papo vai, papo vem, ele confessa que no dia que nos conhecemos ele mentiu a idade. Disse que tinha 34 pois achou que, se confessasse os 29, eu não teria ficado com ele. Fofo e tolinho. Até que pra bruto que eu já tinha tacado no mar como oferenda, ele tava aparentando ser um revival interessante. Tolinha eu. Se Iemanjá não quis a oferenda e jogou de volta é porque nem pra isso ele serve. Ficamos. Marcamos de nos ver de novo no dia seguinte. Jacaré apareceu? Nem ele.

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