Palhaço Gene Kelly ou Palhaço italiano maratonista
Relato de uma amiga via e-mail:
É engraçado como é só falar que somos brasileiras que o tratamento muda.
Estava morando na Itália em 1998 há um mês quando um cara na minha rua me abordou.
Detalhe importante: tenho nome italiano, cara de italiana e me vestia igual a uma italiana...
O cara puxou papo comigo no meio da rua. Não era de se jogar fora, mas como na Itália os homens são maravilhosos do lixeiro ao motorista de ônibus, confesso que não me interessou desenvolver uma relação de afeto com ele visto que a oferta lá era bem melhor. Eu tinha 18 anos e era apaixonada pelo meu namorado no Brasil.
Como sou educada, me limitei a responder às perguntas embora não tenha parado para conversar. Continuei subindo a ladeira que morava e ouvindo mais o cara do que falando, pois meu italiano era péssimo. Ele disse que me via há um mês andando pela vizinhança e queria saber quando havia me mudado.
Continuei andando apressada e ele veio me acompanhando. O local era movimentado. Eram 16h, mas como chovia horrores e estava frio parecia que eram 18h. Eu carregava um álbum grande de fotografias abraçado junto ao tórax com uma mão e com a outra segurava um guarda-chuva. Nunca vi alguém tentar fazer amizade ou estabelecer qualquer outro tipo de relação com outra pessoa no meio da chuva. É isso mesmo. O cara resolveu puxar papo comigo no meio da chuva quando eu subia uma ladeira até minha casa. Dava até para fazer um esquete com o título “Cantando na chuva”.
O Genne Kelly continuou o seu monólogo e quando notou que eu não era italiana e, principalmente, soube que vinha do Brasil, ficou mais animadinho. De fato os olhinhos brilharam. Eu estava perdendo a minha paciência até que lê disse algo que não entendi e me agarrou no meio da rua. Foi isso mesmo. O palhaço me agarrou no meio da rua debaixo de chuva. Será que ela achou que eu me apaixonaria por ele com este ato de coragem?
A cena foi ridícula. Eu estava com as mãos ocupadas e a única coisa que me veio na hora foi bater nele com o guarda-chuva. Eu segurava o álbum e espancava o cara com o guarda-chuva. Enquanto eu batia nele, as pessoas nos olhavam e riam. É isso mesmo. Eu estava sendo atacada por um palhaço italiano e as pessoas achavam engraçado. Na Itália é bem comum casais brigarem no meio da rua. Provavelmente as pessoas acharam que era isso.
Quando o guarda-chuva estava destruído, eu subi a ladeira correndo. Ele não desistiu e correu atrás de mim. Fiquei apavorada. Eu usava bota e roupas pesadas e ainda carregava um álbum enorme, mas não parava de correr e o cara na minha cola. Aquilo já passava dos limites e agora eu estava com medo que ele quisesse revidar a agressão. Já imaginava as manchetes “Brasileira é espancada no norte da Itália depois de recusar cantada”. Ele só ficou para traz quando atravessei uma rua perpendicular com o sinal aberto e ele não conseguiu passar e quase foi atropelado.
Continuei correndo até chegar em casa e subir as escadas do prédio. Entrei esbaforida e fechei a porta. Colei as costas na porta e me agachei para descansar. Eu não consegui nem respirar direito. Minha prima me viu sentada com as costas na porta de entrada do apartamento abraçada com o com o álbum de fotografia e com um guarda-chuva em pedaços na outra mão e perguntou o que havia acontecido. Eu demorei 20 minutos para me recuperar. Agradeci minha boa forma da época e morri de rir com o ocorrido.
segunda-feira, 11 de dezembro de 2006
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