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quinta-feira, 4 de dezembro de 2003

Meu primeiro palhaço, quer dizer, namorado
Eu tinha 14 anos ou 15 anos e comecei a namorar um cara de 21. Claro q alguma coisa tava errada: um marmanjo desses com uma pirralha, boa coisa não podia ser. Mas obviamente eu era adolescente, e como todos eles, tinha merda na cabeça.

Claro q eu não era empenhada pelo sucesso da relação, aliás, nem pensava nisso. Namorava com ele e pronto, íamos ao cinema, ao baile, a praia. Beijávamos na boca e nos divertíamos juntos, e na época, isso era suficiente pra mim. Eu não pensava no futuro da 'relação' nem sei se queria algum futuro praquela relação.

O cara, q era divertido no começo, começou a se mostrar meio mala. Começou com um tal de "eu te amo, vc me ama?". Porra, isso não é coisa q se pergunte se a outra pessoa ainda não disse. Não se força ninguém a dizer q ama. Além do q, eu tinha 14 anos e tínhamos começado a namorar há pouco tempo.

Uma vez viajamos pra com nosso grupo de amigos pra uma praia. Quando íamos voltar arrumei minhas coisas, tomei banho e cheguei sorridente com minha mochila. Qndo ele viu minha roupa deu um chilique. Eu tava de bermuda e uma blusinha curta. Deu piti pq eu tava de umbigo de fora. Oras, q roupa ele achava q uma adolescente devia usar no verão? Mandou eu trocar de roupa. Não troquei, é claro, e ele veio pro Rio de cara emburrada.

Depois veio com um papo de 'vamos nos casar'. Avisei q não pretendia me casar nem tão cedo, q gostava dele, mas nem sabia se amava mesmo, q queria estudar e ter uma vida antes de pensar em me casar. Cara emburrada de novo.

Um outro dia comentei q queria estudar alemão. Ele fez uma cara de bunda. Perguntei qual o problema.
– É q não sei e vou ter dinheiro pra pagar todos os cursos q vc quer fazer.
– Ué? eu vou pagar. Vou estudar, vou trabalhar e pagar meus cursos oras.

Cara de bunda muito feia.
– Vc não vai trabalhar. Estudar tudo bem, mas não vou deixar vc trabalhar.
– Hein? como assim? Nem sei se vou casar com vc, mas qual o problema de trabalhar, sua mãe não trabalha? Sua irmã não trabalha?


Eu não pretendia me casar com ele, muto menos ser sustentada pelo bruto, mas não aceitei aquela afirmação. Como assim? A mãe dele era médica. A irmã era formada em adminstração e tinha um cargo legal em um grande banco, no qual inclusive, ela havia arrumado emprego pra ele como caixa. Aliás, além de morar na casa dela, ele adorava a irmã, era super fã dela.
Aí veio a pérola das pérolas.
– Se a minha irmã corneia o marido dela não é problema meu.
Então quer dizer q trabalhar é sinônimo de adultério? Então se ele ia trabalhar pra susentar o 'casal' tava implícito q ele ia me trair? Sem trabalha eu não ia ter mais tempo pra trair não?

Bom, nem lembro o q eu respondi. Disse q era um absurdo o q ele tava dizendo e tal. Na hora encerrei o assunto e deixei a poeira assentar. Uns dias depois terminei com ele. Porra, eu era adolescente, tinha 15 anos, queria me divertir, rir, ir à praia, dançar, beijar na boca, não tava a fim de me aborrecer com um machista bizarro.
Ele ficou sentando nas escadarias do meu prédio por uns tempos, disse q ia morrer, choramingou com minhas amigas. Mesmo sendo novinha vi q não rolava, melhor botar a fila pra andar.

15 anos depois
Um dia estou parada de tarde na Cinelândia esperando um táxi e vejo um parar, mas não era da cooperativa q eu usava. Qndo olho o motorista...era ele, o palhaço dos meus 15 anos! Tinha virado taxista! Disse q tava passando, me reconheceu e parou. Eu disse q não precisava, mas ele insistiu pra me levar no jornal. Então tá, já tinha tanto tempo, não fazia mais diferença e aceitei.
– E aí Roberta, como vc está, q faz da vida?
– Sou jornalista, trabalho no jornal tal.
– Vc não queria ser química?
– Cheguei a fazer faculdade de engenharia química, mas não gostei e troquei por jornalismo. Sou muito feliz, adoro minha profissão.
– Eu casei e tenho uma filha linda.
– Ah, tá. Legal.
– É, vc tem a carreira q queria. Conseguiu.

Faço cara de 'heeeein?'
– A gente se amava. Nosso amor era lindo, mas vc preferiu trocar tudo pela sua carreira. Então, vc tem a sua carreira, mas não tem uma família. Eu tenho uma família.
– Ah, é, né? O jornal é por ali.

Nos despedimos com um "então, tá. Foi legal te ver. Boa sorte pela vida".

Alow! Eu queria uma carreira? Eu tinha 15 anos, eu só não queria ninguém me enchendo o saco! Queria ser feliz. O nosso amor era lindo? A gente se amava muito?
Ok, não quis destruir as quimeras do bruto e nem falei nada. Deixa ele pensar assim então.
E pra falar a verdade, ele me mostrou a foto da filha e nem era bonita.

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