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terça-feira, 23 de dezembro de 2003

O fim da viagem e da minha história com Bodão

Era o dia seguinte do Reveillon. O palhaço da minha amiga ia passar para nos pegar na casa do primo do Bodão e voltarmos para o Rio no final da madrugada. Bodão queria ficar mais alguns dias em Búzios hospedado na casa do primo, mas a mãe dele não achou uma boa idéia e resolveu alugar um carro para busca-lo e traze-lo de volta para o Rio pessoalmente (!!!).

No começo da noite, estávamos tomando umas cervejas, eu, Bodão, minha amiga, e o primo dele. Foi um dos melhores momentos da viagem, estávamos num barzinho descontraído, na mesma rua da casa, um lugar tranqüilo, com pessoas mais autênticas. Depois de algumas cervejas, já rolava um clima entre o primo e a minha amiga. Bodão, como sempre perspicaz, teve a brilhante idéia de buscar uns sanduíches naturais em casa. Isso, às quatro e pouco da manhã. Antes de dar tempo para que disséssemos qualquer coisa, Bodão já havia saído em disparado, tenaz do jeito que era. Claro que a mulher do primo acordou, e voltou junto com o Bodão para conferir o que estava acontecendo.

Minha amiga ficou puta, mas apesar da situação meio sem graça tudo transcorreu normalmente, afinal a mulher também era legal e segura de si. Já estava quase na hora de irmos embora, mas resolvemos experimentar a erva que o casal cultivava. Estávamos em rodinha no quintal. Bodão ficou um pouco chocado ao constatar que seu primo era um apreciador, pois, como já disse antes, ele era terminantemente contra drogas ilícitas. Mas, como também era um sujeito sem personalidade e maria-vai-com-as-outras, qual não foi a minha surpreso ao vê-lo pegar o baseado e, ao invés de passar adiante, dar um tragadão com toda a força que conseguiu dar a seus pulmões. Achei aquela cena incrível e hilária, todo mundo ria do palhaço.

Não deu muito tempo de curtir a onda. Já estava amanhecendo, eu e minha amiga pegamos nossas bolsas para irmos para a esquina esperar nossa carona redentora que nos levaria de volta para a vida normal no Rio. Bodão seguia conosco abraçando um travesseiro. No meio do caminho, ele parou e vomitou. Estava completamente alucinado. Tentava me convencer a não ir embora, queria que eu ficasse para voltarmos juntos no carro que a mãe dele tinha alugado e chegaria mais tarde. Minha amiga falou ao meu ouvido que se eu ficasse de novo com Bodão ela nunca mais falaria comigo. Eu não tinha dúvidas, quanto antes me livrasse dele, melhor. Entramos na caçamba da Fiorino. A porta se fechou. Vi através do vidro traseiro a imagem de Bodão correndo atrás do carro, gritando que me amava, ficando cada vez menor à medida que nos distanciávamos e a poeira levantada. Esta foi a última cena de minha história com Bodão. Como sempre, patética.

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